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Brasil: Primeira vítima fatal das 'desocupações' das escolas pode ter surgido

PM está 'terceirizando' desocupação das escolas, e primeira vítima pode ter surgido. Estudante Rayzza Ribeiro foi encontrada morta após confraternização na escola. Estado carbonizado em que seu corpo foi encontrado deixa claro que a intenção era dificultar o reconhecimento

26 de mayo de 2016

Fuente: Pragmatismo Político

Por Mauro Donato, DCM

raissaDesgastada perante a opinião pública após os episódios de espancamento em estudantes adolescentes e menores de idade, a polícia mudou de estratégia e passou a ‘terceirizar’ as tarefas de desocupações e reintegrações de posse de escolas. Desde o final do ano passado, vem encomendando a ação para milicianos e policiais à paisana, juntamente com um ou outro aluno, pai e diretor descontente.

Com ajuda da mídia viciada, a população é induzida a acreditar que trata-se de alunos aplicados que desejam ter aulas e que a maioria estaria contra as ocupações. Não são, são criminosos que vem ameaçando, agredindo e que podem ter feito sua primeira vítima fatal.

A estudante Rayzza Ribeiro, de 21 anos, era ativista em uma ocupação na escola Miguel Couto. Após uma festa na escola no domingo, foi até o ponto de ônibus e não havia mais sido vista. Foi encontrada morta, na segunda-feira (dia 23). Seu corpo estava carbonizado na estrada do Chaparral, na região dos Lagos (RJ). Para o delegado responsável pelo caso, Jorge Veloso, ainda não é possível declarar o que causou a morte da menina, mas o estado em que o corpo foi encontrado deixa claro que a intenção era dificultar o reconhecimento.

Consternada, a mãe de Rayzza afirmou que pediu para que não fosse. “Cheguei a falar para ela não ir ao evento por todos os problemas que estão acontecendo”. Que problemas? Bem, os casos de perseguição a estudantes ativistas de ocupações estão tomando uma proporção assustadora e que remonta ao piores momentos da ditadura. Em todos os estados onde elas ocorrem.

Em São Paulo, T.C.R. não dorme mais em paz. Ela é mãe de um estudante que tem participado das ocupações a escolas e que é vítima de uma perseguição aterradora. Ela estava assistindo a TV no ano passado quando viu seu filho ser preso e agredido por um policial, ao vivo. Revoltada, foi até a delegacia para denunciar o PM, mas quem acabou fichado foi seu filho, por desacato. Desde então, acabou a paz.

“Na noite da ocupação ao Centro Paula Souza, policiais foram até a casa do meu filho. Por sorte ele não estava lá. Depois foram até a escola onde ele estuda e enquadraram alguns alunos. Colegas disseram que os policiais estavam com a foto do meu filho no celular, estavam procurando por ele. Estão perseguindo ele desde as ocupações do ano passado, uma perseguição constante. Essa não é a primeira vez que fazem isso”, conta.

“A polícia já entrou armada com fuzil na casa dele, sem um mandado judicial de busca. Já relatei isso na Comissão Interamericana de Direitos Humanos e vou denunciar o que está ocorrendo agora de novo porque eles me pediram que eu avisasse imediatamente caso sofresse alguma repressão ou se meu filho sofresse perseguição. E já é a segunda vez que vão até a casa de meu filho, armados.”

O menor G.M.B. (16 anos) também tem um relato contundente. Foi detido em uma manifestação no mês passado, algumas semanas antes da ocupação do Centro Paula Souza. “Eles vieram pra cima de mim. Me prenderam e levaram para a DP da avenida Rio Branco. Disseram ter puxado meu nome e que eu era fugitivo da Febem (Fundação Casa), que precisavam saber de qual Febem eu era, de onde tinha fugido. Minha mãe chegou logo depois, mas daí me colocaram numa viatura com quatro policiais e começaram a andar comigo. Começou às 17 horas e só fui liberado às 22h30. Todo esse tempo no porta-malas, sem poder beber água, nada.”

“Levaram-me primeiro na Febem do Belém. Não encontraram nada. Levaram-me então para a do Brás e depois na Mooca. Não tinha absolutamente nada. Na viatura ficavam me ameaçando: ‘quando a gente acabar vou te dar um pau’. Diziam que iriam me encher de cascudo por estar fazendo eles andarem tanto, me chamavam de macaco. Um deles falou que iria entrar comigo numa Febem e que lá ele poderia me bater. Toda hora ficavam mostrando fotos minhas que tinham feito durante o protesto. Quando voltei, minha mãe ainda estava me esperando. Para ela, disseram que tinham me levado fazer exame de corpo delito. Não quero passar por aquilo nunca mais.”

Os relatos de perseguição têm se multiplicado entre os jovens. Essa perseguição da polícia é agora acrescida das ações comandadas por milícias. A nova tática foi facilmente constatada quando, há algumas semanas, o governador Geraldo Alckmin visitou a favela de Paraisópolis e ‘conversou’ com três ou quatro alunos contrários a uma ocupação na escola Basilides de Godoy e com um líder da comunidade.

Pouco depois, os alunos passaram a sofrer pressão psicológica devido a ameaças de que o PCC invadiria a escola para tirar os ocupantes na base da força. Isso ocorreu alguns dias depois deixando feridos, mas se eram da facção ou não, só Marcola pra responder. Na escola Mendes (RJ) a desocupação também se deu de forma semelhante e estudantes que ocupam os colégios Central do Brasil e Cairu, no Méier, dizem estar sofrendo ameaças diárias.

“Com certeza haverá uma perseguição e criminalização muito pesada a esses jovens, tanto administrativamente nas escolas, quanto tentativas de responsabilização dos pais. Tudo que as autoridades puderem imputar, de forma ilegal, pra pressionar os estudantes e desmobilizá-los e reprimi-los eles vão fazer”, declarou profeticamente há alguns meses uma advogada que acompanha os estudantes e que, também ela, preferiu não se identificar.

Casos graves estão ocorrendo em Goiás, Rio (onde até pitbull é usado) e São Paulo e já estavam sendo relatados aqui no DCM. Agora surgiu um cadáver. A sociedade vai esperar mais um?